21.1.08

Acto de Contricção

Após conclusão deste trabalho verificamos algumas lacunas e omissões. Elas foram de ordem vária, uma delas refere-se à omissão do Clero como classe social, outra talvez a mais notória, diz respeito à omissão, para termo de comparação, do uso da água noutras culturas que não a ocidental, sobre a qual incidiu maioritariamente o nosso trabalho. No que se refere ao clero, a existência de dados disponíveis foi praticamente nula, pelo que apenas podemos mencionar a utilização da água, com um valor simbólico e ritual, nomeadamente no baptismo.

Concluindo, fica em aberto a hipótese de execução de outro ou outros trabalhos, pois a água noutras culturas assim como as suas relações com a higiéne, seriam temas interessantes a desenvolver e aprofundar. A falta de tempo foi nossa inimiga!!

14.1.08

A água

Em Química, a fórmula da água é H2O. A ÁGUA surgiu no decurso de reacções químicas que tiveram lugar no nosso planeta durante as primeiras fases da sua formação, o que só nos transmite o conhecimento da sua constituição, ou da sua origem. Esta é uma necessidade biológica, se um indivíduo não beber água, sucumbirá ao fim de 4 ou 5 dias.

Inicialmente

As primitivas sociedades foram criadas perto de nascentes ou pontos de água, devido ao seu valor para a agricultura.

Os romanos trouxeram a profusão de estabelecimentos termais, que eles construíram um pouco por todo o seu império.

Petra, cidade fundada pelos Nabateus, na rota da seda, que só foi possível existir com tanta opulência e tornar-se um ponto obrigatório de paragem nessa famosa rota, graças ao seu muito eficiente sistema de captação das águas, provindas da montanha, que após encaminhamento na rocha era acumulada em reservatórios subterrâneos, servindo assim como mercadoria, já que ela era a única razão para a passagem das caravanas

Começaram a estabelecer-se correlações entre o uso da água e a classe social dos seus utilizadores. Distinção entre a aristocracia e o povo.
Para a primeira a água era sinónimo de prazer, ociosidade e luxo, para a segunda, o mesmo bem significava somente agricultura e sobrevivência.

Entre a época clássica e a idade média, pouco se altera a nível social, mantendo-se as mesmas duas classes e hábitos.

A Partir do Século XVI

Segundo Servais, P. (1993) existem três atitudes principais, relativamente à água:

“A desconfiança face à água”,até meados do séc. XVIII.

“ Da água que penetra o corpo, aquela que o reforça", até ao final do séc. XIX.

“A água que protege”, até aos nossos dias.

Idade Média

Aparecimento das estufas (similares às saunas de hoje). O banho é aqui relacionado directamente com a imoralidade. A opinião dos clérigos era que "é de evitar a água por razões morais, ela é de evitar igualmente dada a fragilidade do corpo”.
Ao recusar à água o papel na limpeza, atribui ao pano húmido a responsabilidade sobre a higiene pessoal, já que as pessoas não se lavavam, mas esfregavam-se com ele.

Século XVI

Por volta do séc. XVI, a nobreza, já não toma banho por medo da doença, tendo grande importância no seu vestuário, o aparecimento do colarinho e dos punhos brancos visíveis à superfície, sendo então símbolo de estatuto social.
A limpeza é, antes de tudo, uma questão de aparência, como aconselha um manual do séc. XVI: "ter as mãos e a cara limpas e não coçar muito visivelmente a sua bicharia, é sinónimo de boa educação".
A água como sinónimo de luxo continua a existir, mas agora nas fontes e repuxos que embelezam jardins como o de Versalhes.
O aparecimento da burguesia inicia um novo significado para a água, ao utilizar o conceito do quente como amolecimento do corpo e a água fria como fonte de dureza do mesmo. Esta dureza, da preferência pela água fria, passou a ser sinónimo de trabalho e consequentemente característica de classe social.

Século XVIII

Com a invenção da canalização de chumbo e a sua propaganda sedutora, a água entrou nas habitações. Claro que só os mais ricos tinham poder para usufruir deste privilégio. As virtudes da limpeza eram sinónimo de saúde e de estatuto social elevado. Os banhos com o objectivo de higiene continuam a ser escassos, sendo considerados como tratamento pela medicina, que propunha um banho por mês ou por ano.

Séc.XIX

Em meados do séc. XIX, aparece o futurista modelo de uma casa que dispunha de água corrente no toucador, no entanto não tinha como função "o banho”.
As descobertas de Pasteur leva o discurso médico ao "higienismo", que em Portugal tem como nome de referência o Dr. Ricardo Jorge.
Durante a revolução industrial, surge uma nova classe social: o Proletariado, que invade as cidades, provocando um aumento das necessidades, entre elas a água. Tendo então implicado a procura e a captação de novos poços para o abastecimento da população aí existente, podemos referir que por exemplo na cidade do Porto, o primeiro registo de requisição de água ao domicílio data de 1864, de onde se deduz que toda a população dependia das fontes e poços existentes.

1899 - 1901

A reforma sanitária de 1899-1901 teve como inspiração Inglaterra, considerada a “pátria da higiene” e o modelo de organização médico-sanitária. Os doutores de medicina eram auxiliados por engenheiros sanitários, fiscais de salubridade e uma série de inspectores para cada ramo de aplicação e de directores de laboratórios.
A inclusão da higiene da indústria no Artigo 10º do regulamento de 4 de Dezembro de 1901 visava a melhoria da saúde comunitária, não a saúde do indivíduo e tinha como função estudar a sanidade pública no seu todo, a higiene social, a vida física da população, promovendo a melhoria da mesma, criando um princípio educativo na sua reforma, que abrangia por ex:

- A defesa contra as epidemias da moléstias que existiam com a mobilidade entre as (ex.) colónias e o continente.

- A salubridade dos lugares e habitações.

- A higiene na indústria e no trabalho.

- A polícia mortuária.

Deste modo, estreitam-se as fronteiras entre o público e o privado aparece a “moda” de higiene e limpeza.

Actualidade

O consumo de água é excessivo, devido ao aumento: da população, das dimensões das casas, com várias divisões, tendo água canalizada sempre à mão, resumindo, com a criação de novas condições de vida, logo outras necessidades de limpeza e de higiene, criou-se o hábito do banho matinal, da lavagem frequente dos dentes, cabelo, da roupa e da água quente a correr, é só abrir a torneira.

Como Poupar Água...

É muito fácil poupar água. Só precisa de:

- Preferir o chuveiro ao banho de imersão: gasta entre 25 e 100 litros em vez de 200 a 300!

- Fechar bem as torneiras.

- Não deixar a torneira aberta enquanto lava os dentes!

- Ao lavar a loiça, não use a água a correr.

- Utilizar esquemas para reduzir a água de cada descarga de autoclismo, como a garrafa de água no interior, que reduz o consumo em cerca de 30%.

- Consertar o pingo da torneira poupa litros de água!

Dr. Ricardo Jorge

O Dr. Ricardo Jorge nasceu em 1858 e faleceu em 1939. Foi um médico e historiador, nascido e formado na cidade do Porto, teve um papel preponderante na prevenção da doença através de recomendações dos cuidados de higiene. Há registos de vários escritos com chamadas de atenção sobre a higiene. Em 1888, Ricardo Jorge faz um alerta, nomeadamente para as "condições de imundice e salubridade" das populações portuenses.
Ricardo Jorge também teve uma carreira docente, a par com a sua actividade científica, na qual desenvolveu o estudo sobre epidemias e higiene. Foi autor de um livro cujo título era “Higiene Social Aplicada à Nação Portuguesa” (1884), que abordava as questões de saúde, tendo tido um grande impacto na época, regista-se um outro trabalho de igual importância que é sobre “A Demografia e Higiene da Cidade do Porto”, (1899). A sua grandiosa intervenção durante um período em que houve um surto de peste bubónica, valeu-lhe um reconhecimento a nível nacional e internacional. O seu nome fica para a história da saúde em Portugal.

Conclusão

Actualmente, quando vemos alguém sujo, que claramente não toma banho, associamo-lo imediatamente à falta de condições e de estatuto social de baixo nível. Assim como, pensando num sujeito de fato e gravata, atribuímos de imediato a essa pessoa uma posição social elevada.
A água tem vindo a desempenhar um papel, não só de bem indispensável à sobrevivência, mas também de modo de característica identificadora de um grupo social, em função da sua utilidade e da época em que nos encontramos.
Assim, podemos dizer em que classe social se insere um indivíduo, com algum grau de certeza, se dele soubermos a época em que viveu e o uso que fez da água.